De Povos Indígenas no Brasil
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“Sem o território, a nossa cultura acaba, os nossos filhos se perdem, né? Sem ele a gente não existe. Sem ele, simplesmente não existem os povos indígenas.”

Watatakalu Yawalapiti


Watatakalu Yawalapiti, durante a 1ª Marcha das Mulheres Indígenas, realizada em Brasília (DF), em 2019. Foto: Mariana Spagnuolo Furtado/ISA, 2019.Watatakalu Yawalapiti, durante a 1ª Marcha das Mulheres Indígenas, realizada em Brasília (DF), em 2019. Foto: Mariana Spagnuolo Furtado/ISA, 2019.


Meu nome é Watatakalu Yawalapiti, do alto Xingu. Sou da Coordenação de Mulheres e estou acompanhando as mulheres.


O que trouxe você à primeira marcha das mulheres indígenas?

Como é a primeira Marcha, é importante a presença de todos os povos. A gente não conseguiu trazer 100% dos povos do Xingu, mas trouxemos 14 povos, que vêm de todas as regiões do Xingu. Muitas mulheres que não conhecem e só ouviram falar do ATL e de outros movimentos, conseguiram vir. Conseguimos dar essa oportunidade.. esse evento deu oportunidade para essas mulheres terem noção do que é um ATL, o que é uma mobilização. E, assim, trazer essas mulheres ao movimento indígena como um todo.

Quais os desafios que você sente, e vê suas companheiras sentirem, por ser indígena

Primeiro por sermos mulheres, né? A gente sentiu muito isso com a forma que chegamos aqui. Não tivemos muito apoio. As mulheres passaram fome, porque quebrou carro no meio do caminho. Então teve “baldiação” e no outro dia buscaram as outras mulheres. E elas tão vendo isso como uma forma de entender que apesar das dificuldades, a gente precisa ir [para a Marcha / para Brasília], porque o desafio maior tá lá - é o governo que tá lá, que quer tirar os nossos direitos. Os nossos vizinhos ruralistas estão o tempo todo em cima da gente, e trazer essas mulheres para conhecerem essa realidade, para que elas pensem duas vezes ao não quererem participar de reunião. Pra que elas também participem e não sejam sempre as mesmas 3 ou 5 que ficam nas reuniões, que sejam várias mulheres de todo o Brasil.

O que você acha que traz saúde para a mulher indígena?

Estar bem, na aldeia. Território garantido, ter sua cultura preservada, a gente ter segurança de que não é a qualquer momento que pode vir alguém vir tirar nossa terra da gente. A gente tendo nossa alimentação tradicional dentro da aldeia, a gente ter uma educação. Porque hoje a gente precisa unir nossa forma tradicional e o jeito não indígena também pra gente poder fortalecer o nosso movimento, porque não é fácil. As culturas mudam, mas a gente precisa trazer coisas boas também, não coisas ruins às nossas culturas.

Como vocês veem o tema “Território, nosso corpo, nosso espírito!” como a abertura da primeira marcha das mulheres indígenas?

As mulheres que trouxeram essa proposta são as mulheres que já estão há muito mais tempo do que a gente no movimento indígena. Então, elas souberam colocar essas palavras juntas. Mas a gente pensando como indígena, nas nossas línguas falando, dá na mesma.. Porque sem o território, essas duas coisas não existem. Sem o território, a nossa cultura acaba, os nossos filhos se perdem, né? Onde vamos ensinar os nossos filhos, né? Crianças que nascem na cidade, que não conhecem, depois de muito tempo.. ela quer conhecer a cultura indígena.. é impossível ela aprender tudo aquilo que uma criança que nasce lá, ou que pelo menos volta e é criado lá no nosso território.. é diferente. Então, é isso. Porque sem ela a gente não existe. Simplesmente não existe os povos indígenas.


A entrevista acima foi registrada em 2019, durante a Primeira Marcha das Mulheres Indígenas, em Brasília (DF), por Selma Gomes, Beatriz Murer, Daniele Leal, Mariana Furtado e Silvia Futada.