De Povos Indígenas no Brasil
Foto: Beto Ricardo, 1999

Etnias do Rio Negro

Autodenominação
Onde estão Quantos são
Família linguística
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A região do Noroeste Amazônico, que abrange a bacia do Alto Rio Negro, onde a linha fronteiriça entre o Brasil e a Colômbia faz um desenho que lembra uma cabeça de cachorro, é habitada tradicionalmente há pelo menos dois mil anos por etnias que falam idiomas pertencentes a três famílias lingüísticas: Aruak, Maku e Tukano.

A despeito do multilingüismo e de diferenças culturais, as 27 etnias que habitam a região - 22 presentes no Brasil - compõem uma mesma área cultural, estando em grande medida articuladas numa rede de trocas e identificadas no que diz respeito à cultura material, à organização social e à visão de mundo.  Esta área cultural é, ainda, subdividida em:

 

Etnias do Rio Uaupés

Arapaso Bará Barasana Desana Karapanã Kubeo Makuna Mirity-tapuya Pira-tapuya Siriano, Tariana Tukano Tuyuca Kotiria, Tatuyo, Taiwano, Yuruti (as três últimas habitam só na Colômbia)

Etnias do Rio Içana

Baniwa e Coripaco

Etnias Maku

HupdaYuhupde Dow Nadöb, Kakwa, Nukak (as duas últimas habitam só na Colômbia)

Etnias do Rio Xié

Baré e  Warekena

Sociodiversidade

No que diz respeito a fatores como distribuição geográfica, línguas faladas e organização social, as 22 etnias da região do Noroeste Amazônico podem ser divididas em quatro conjuntos, abordados em diferentes seções:

1) Etnias do Rio Uaupés: distribuem-se pela bacia desse rio e outras bacias vizinhas ao sul. Em sua maioria, falam línguas da família Tukano Oriental. Organizam-se em fratrias e sibs patrilineares exogâmicos (grupos de descendentes de um ancestral comum que não casam entre si): Arapaso, Bará, Barasana, Desana, Karapanã, Kubeo, Makuna, Miriti-tapuya, Pirá-tapuya, Siriano, Tariana, Tukano, Tuyuka, Kotiria, Taiwano, Tatuyo, Yuruti (sendo que as três últimas habitam só na Colômbia).

2) Etnias Maku: Localizam-se predominantemente nas regiões interfluviais ao longo de uma linha de direção geral noroeste-sudeste, desde o Rio Guaviare, na Colômbia, ao Japurá, no Brasil, cortando a bacia do Uaupés. Organizam-se em grupos domésticos (de parentes próximos do marido e/ou da esposa) e regionais (aglomerado de aldeias próximas), que falam dialetos da família Maku: Dow, Hupda, Nadöb, Yuhupde, Kakwa, Nukak (as duas últimas habitam só na Colômbia).

3) Etnias do Içana: habitantes do Içana e seus afluentes Cuiari, Aiairi e Cubate. Falantes de língua da família Aruak. Organizam-se em sibs e fratrias patrilineares exogâmicos: Baniwa e Coripaco.

4) Etnias do Rio Xié e do Alto Rio Negro: Habitam a região em que as fronteiras do Brasil, Venezuela e Colômbia se aproximam. A maioria é falante da Língua Geral, o nheengatu, introduzida pelos primeiros missionários, no século XVIII: Baré e Warekena [ou Werekena].

Localização e população

Rio Negro, logo abaixo de São Gabriel da Cachoeira. Foto: Beto Ricardo, 1996.
Rio Negro, logo abaixo de São Gabriel da Cachoeira. Foto: Beto Ricardo, 1996.

O principal rio que corta essa região é o Negro, afluente do Amazonas que, antes de entrar no Brasil, tem o nome de Guainía e separa a Colômbia da Venezuela. No seu alto curso, ele recebe, pela margem direita, o Içana e o Uaupés (chamado de Vaupés na Colômbia). Abrange também o Rio Apapóris e seus afluentes, tributário quase inteiramente colombiano do Caquetá, uma vez que desemboca neste último após marcar um pequeno trecho da fronteira com o Brasil. Daí para baixo, o Caquetá passa a denominar-se Japurá.

A bacia hidrográfica do Rio Içana tem suas nascentes na Colômbia, mas logo em seguida passa a delimitar a fronteira com o Brasil, adentrando o território brasileiro na direção sudoeste depois de um pequeno trecho. A extensão do Içana é de cerca de 696 Km. Já o Rio Uaupés tem cerca de 1.375 Km de extensão. Depois do Rio Branco, o Uaupés é o maior tributário do Rio Negro e, em seu curso, também recebe as águas de outros grandes rios, como o Tiquié, o Papuri, o Querari e o Cuduiari. Acima da foz do Uaupés fica a área formada pelo Rio Xié e alto curso do Rio Negro.

A maior parte da região é constituída por terras da União (Terras Indígenas e um Parque Nacional). A população indígena atual constitui pelo menos 90% do total, embora os mais de dois séculos de contato e comércio entre os povos nativos e os "brancos" tenha forçado a ida de muitos índios para o Baixo Rio Negro ou para as cidades de Manaus e Belém, bem como levado pessoas de outras origens a se estabelecerem ali. A presença de nordestinos, paraenses e e pessoas de outras partes do Brasil e do Amazonas se concentra nos poucos centros urbanos regionais.

No Brasil, as etnias do Alto Rio Negro se encontram em oito Terras Indígenas - cinco delas homologadas e contíguas, duas ainda a identificar e uma em identificação (veja também - "Como é feita a demarcação hoje?") - situadas nos municípios amazonenses de São Gabriel da Cachoeira, Japurá e Santa Isabel.

 

Terras Indígenas homologadas Extensão (Km²)
Alto Rio Negro 79.993
Médio Rio Negro I 17.761
Médio Rio Negro II 3.162
Rio Apapóris 1.069
Rio Téa 4.118
TOTAL 106.103

É possível dizer que no Alto e Médio Rio Negro existiam 732 povoações no ano de 2002, desde pequenos sítios habitados por apenas um casal até grandes povoados e sítios espalhados pelos rios da região. O censo da população indígena da região conta aproximadamente 31 mil índios, número que inclui aqueles que vivem na cidade de São Gabriel da Cachoeira (cerca de oito mil em 96) e Santa Isabel (cerca de três mil em 96). Veja, a seguir, como está distribuída a população das diversas etnias:

 

Sub-regiões População (*)
Uaupés (incluindo Traíra) 9.290
Içana 5.141
Rio Negro (Alto) e Xié 3.276
Rio Negro (Médio) 14.839
TOTAL 31.625

* Dados de 2000, incluindo população não indígena das cidades.

Línguas

O mapa ao lado é uma representação da diversidade lingüística do Médio e Alto Rio Negro que apresenta as mesmas ressalvas do mapa apresentado no item Localização e população: muitos povoados são ocupados por várias etnias, que algumas vezes utilizam não s
O mapa ao lado é uma representação da diversidade lingüística do Médio e Alto Rio Negro que apresenta as mesmas ressalvas do mapa apresentado no item Localização e população: muitos povoados são ocupados por várias etnias, que algumas vezes utilizam não s

No Noroeste Amazônico são faladas mais de 20 línguas, de três grandes famílias lingüísticas: Tukano Oriental, Aruak e Maku. As línguas da família Tukano Oriental - diz-se assim para diferenciá-los dos tukano ocidentais, que habitam nas fronteiras entre Colômbia, Equador e Peru - predominam no Uaupés e no Apapóris, enquanto os falantes da família Aruak são mais comuns no Içana. Algumas línguas, como o Tukano e o Baniwa, são faladas por alguns milhares de pessoas, e outras, como o Dow, por apenas poucas dezenas.

Existem pelo menos 16 diferentes línguas classificadas como Tukano Oriental. No Brasil, seus falantes habitam toda a bacia do Rio Uaupés e, em grande parte dessas populações, ocorre uma convergência entre as regras exogâmicas e os grupos lingüísticos, de tal modo que os grupos afins (com os quais se pode casar) são falantes de outras línguas. Tal dinâmica resulta em um multilingüismo característico da região, em que numa mesma comunidade muitas vezes se fala mais de uma língua indígena, além do Português e do Espanhol. Algumas etnias, ou parte delas, deixaram de falar suas línguas de origem, adotando outros idiomas indígenas. Tal é o caso dos Tariana do Uaupés, originalmente falantes de uma língua aruak, mas que atualmente falam Tukano; ou dos Tukano que foram para o Médio Rio Negro e adotaram o Nheengatu.

A principal língua da família Tukano Oriental é o Tukano propriamente dito. Ela é usada não só pelos Tukano, mas também pelos outros grupos do Uaupés brasileiro e em seus afluentes Tiquié e Papuri. Na medida em que há várias línguas distintas, o Tukano passou a ser empregado como língua franca, permitindo a comunicação entre povos com línguas paternas bem diferenciadas e, em muitos casos, não compreensíveis entre si. Em alguns contextos, o Tukano passou a ser mais usado do que as próprias línguas locais.

As outras línguas dessa família são faladas por populações menores, predominando em regiões mais limitadas. É o caso do Kotiria e Kubeo no Alto Uaupés, acima de Iauareté; do Pira-tapuya do Médio Papuri; do Tuyuka e Bará do Alto Tiquié; e do Desana de comunidades localizadas no Tiquié, Papuri e afluentes.

Os Aruak são representados principalmente pelos Baniwa, Coripaco, Baré, Warekena e Tariana. Os últimos, como mencionado, falam principalmente o Tukano, em consequência do convívio de séculos com os povos Tukano no Médio Uaupés. Os Baré também não falam mais sua língua original. Em decorrência do contato com missionários e a colonização, adotaram a Língua Geral (o Nheengatu). Forma simplificada do Tupi antigo, o Nheengatu foi adaptado e amplamente difundido pelos primeiros missionários jesuítas. Atualmente, esta língua representa uma marca de sua identidade cultural.

A designação Maku se refere a seis línguas distintas de povos que ocupam o território mais extenso do Alto Rio Negro, estando os grupos falantes de quatro dessas línguas no Brasil. A família lingüística Maku nada tem a ver com as famílias tukano ou aruak, se excetuarmos alguns evidentes e poucos empréstimos. Praticamente todos os Maku são falantes de suas línguas. Devido à proximidade dos Tukano, os Maku da área do Uaupés também dominam línguas tukano, dando curso ao multilingüismo da região. 

Grupos étnicos/lingüísticos Família lingüística Principais áreas de ocupação
  • Tukano
  • Desana
  • Kubeo
  • Kotiria
  • Tuyuka
  • Pira-tapuya
  • Miriti-tapuya
  • Arapaso
  • Karapanã
  • Bará
  • Siriano
  • Makuna
  • Barasana (Panenoá)
  • Tatuyo*
  • Yuruti*
  • Taiwano (Eduria)*
Tukano Oriental (Tukano)
  • Rio Uaupés
  • Rio Tiquié
  • Rio Papuri
  • Rio Querari
  • curso alto do Rio Negro (principalmente entre Santa Isabel e a foz do Rio Uaupés, inclusive na cidade de São Gabriel da Cachoeira)
  • povoados em trecho da estrada que liga São Gabriel a Cucuí
  • Rio Curicuriari
  • Rio Apaporis e seu afluente Traíra
  • Departamento do Vaupés (Colômbia)
  • Baniwa
  • Kuripako
  • Baré
  • Warekena
Aruak
  • Rio Içana, Aiari, Cuiari e Cubate
  • Rio Içana, Dpto. de Guainia (COL)
  • Médio e Alto Rio Negro, Rio Xié
  • Rio Xié
  • Tariana
Aruak - médio curso do Rio Uaupés, entre Ipanoré e Periquito
  • Hupda
  • Yuhupde
  • Dow
  • Nadöb
  • Kakwa*
  • Nukak*
Maku
  • região entre os rios Tiquié, Uaupés e Papuri
  • afluentes da margem direita do Rio Tiquié (principalmente os grandes igarapés Castanha, Cunuri e Ira)
  • rios Apapóris e Traíra
  • proximidades da cidade de São Gabriel (do outro lado do rio) até a foz do Rio Curicuriari e do Rio Marié
  • Rio Uneiuxi e no Paraná Boa-Boá (médio Japurá)
  • Rio Téa
  • Departamento do Vaupés e Guaviare (Colômbia)

 (*) Etnias que moram em território colombiano.

Organização social

Cena cotidiana no interior de uma maloca. Ilustração de Maurice Wilson, presente em livro de Hugh-Jones, 1978
Cena cotidiana no interior de uma maloca. Ilustração de Maurice Wilson, presente em livro de Hugh-Jones, 1978

A organização social do Noroeste Amazônico se diferencia da maior parte das sociedades amazônicas pela existência de grupos de descendência patrilinear, nomeados, exogâmicos e idealmente hierarquizados. Uma complexa trama social organiza esses grupos, nos quais a menor unidade é o sib, formado pelos descendentes de um mesmo ancestral e que se consideram parentes próximos.

Entre os grupos da família lingüística Tukano Oriental, em geral a unidade lingüística coincide com a unidade de parentesco agnático com base na descendência patrilinear, corresponde também ao âmbito de exogamia mais operacional. Por exemplo, o grupo lingüístico Tuyuka é formado por cerca de quinze sibs, entre os quais não ocorrem trocas matrimoniais. Assim, os Tuyuka estabelecem suas alianças com os Tukano, Bará e outros.

Em geral, portanto, o grupo de descendência exogâmico coincide com o grupo lingüístico. A noção de descendência comum é revitalizada em procedimentos rituais. Nos termos indígenas, esta unidade é delimitada por uma auto-designação e por um nome pelo qual são reconhecidos pelos outros (índios e brancos). A auto-designação ocorre em duas esferas de abrangência, a do grupo lingüístico (por exemplo, Tukano, Desana, Kotiria, Tuyuka, e outros) e do sib. Os membros de um sib idealmente moram em um mesmo grupo local. Ainda no plano conceitual, cada sib possui uma função particular, associada sobretudo a especialidades rituais. Christine Hugh-Jones descreve cinco funções entre os Barasana (chefe, mestre de cerimônia, guerreiro, xamã e servo), relativas à organização do trabalho, ao desempenho ritual e à guerra. O sib localizado tem como padrão de moradia a maloca, que também possui importantes significados rituais e cosmológicos.

No caso dos povos de origem Aruak, representados por Baniwa, Coripaco, Warekena, Tariana e Baré, a correspondência entre língua, descendência comum e exogamia não é observada atualmente. A unidade exogâmica é o sib: vários sibs falantes da mesma língua se agrupam em fratrias que mantêm alianças entre si.No caso dos Tariana, que ocupam a região do médio Rio Uaupés (onde predominam os povos Tukano Orientais), observa-se que estão integrados como um dos grupos de descendência dentro do sistema social uaupesiano. Embora em sua maior parte tenham adotado a língua tukano, operam como um grupo lingüístico que troca mulheres com seus aliados, especialmente os Tukano, Kotiria e Pira-tapuya. Os Baré, por seu lado, habitam a calha do Rio Negro, nas proximidades da cidade de São Gabriel da Cachoeira. A organização social e as formas de casamento atuais entre os Baré desta região ainda não foram descritas na literatura etnológica.

Já entre os Maku, a organização social dos grupos lingüisticos pode ser caracterizada em três níveis: os grupos domésticos de fogueira, organizados em torno de um casal; os grupos locais, conjuntos de grupos domésticos de fogueira, tendo como ponto focal o homem mais velho dos grupos; e os grupos regionais, organizados territorialmente com referência a igarapés ou riachos. Estes são endogâmicos, com traços culturais específicos e dialetos próprios. Cada grupo lingüistico pode abranger três ou mais grupos regionais.

Trocano em frente à maloca tukano de Pari-Cachoeira, no Rio Tiquié. Foto: Koch-Grünberg, 1904. Segundo o antropólogo alemão, esta maloca media 28,80 metros de comprimento, por 21 de largura e 10,20 de altura.
Trocano em frente à maloca tukano de Pari-Cachoeira, no Rio Tiquié. Foto: Koch-Grünberg, 1904. Segundo o antropólogo alemão, esta maloca media 28,80 metros de comprimento, por 21 de largura e 10,20 de altura.

Nesse contexto de diversidade cultural existem muitas características comuns entre as etnias, principalmente no que diz respeito aos mitos, atividades de subsistência, arquitetura tradicional e cultura material. Tais características comuns são mais evidentes entre os Tukano, Baniwa, Tariana e Baré, por um lado, e os Maku, por outro. Por essa razão, os primeiros são por vezes identificados como "índios do rio". Em contraste, os índios da família lingüística Maku, que possuem uma série de peculiaridades sócio-culturais, podem ser chamados "índios da floresta". Vivendo longe das margens dos rios navegáveis, os Maku se articulam com os índios do rio, mas não do mesmo modo que estes se relacionam entre si. Os Maku, exímios caçadores, em geral fornecem carne aos índios do rio e também lhes prestam serviços em troca de outros alimentos, como mandioca e peixe.

Na perspectiva dos índios do rio, os Maku ocupam uma posição de inferioridade e são considerados incestuosos, pois se casam com pessoas do mesmo grupo de descendência e não seguem seus padrões de residência. Contudo, do ponto-de-vista maku, eles não são servos ou escravos dos índios do rio, podendo a qualquer momento abandonar os serviços que estão prestando e se internar na floresta, povoada por espíritos que os índios do rio desconhecem e temem.

Malocas

Maloca Kuebi do Rio Kuduari, chamada Surubinóca, pintada com motivos coloridos. Era habitada por três irmãos com suas famílias. Foto: Kock-Grünberg, 1904.
Maloca Kuebi do Rio Kuduari, chamada Surubinóca, pintada com motivos coloridos. Era habitada por três irmãos com suas famílias. Foto: Kock-Grünberg, 1904.

A construção de malocas é um costume compartilhado entre as diferentes sociedades indígenas do Alto e Médio Rio Negro. Durante muitos anos essas construções foram alvo de ataques por parte dos missionários, resultando em seu abandono pela maioria das comunidades situadas no lado brasileiro da região. Atualmente vêm sendo recuperadas em alguns locais, como no Alto Tiquié e no Alto Uaupés, no âmbito de um processo de recuperação de tradições e como marca da identidade pelo movimento indígena, como é o caso da maloca na sede da Foirn (Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro), em São Gabriel.

 

 

Perspectiva de uma maloca destacando os esteios e o madeirame que sustenta a cobertura de palha. Ilustração: S. Hugh-Jones e Carmichael, 1985.
Perspectiva de uma maloca destacando os esteios e o madeirame que sustenta a cobertura de palha. Ilustração: S. Hugh-Jones e Carmichael, 1985.

Tradicionalmente, a maloca é dividida em diversos compartimentos laterais, cada qual habitado por uma família nuclear. A regra geral é que o chefe do grupo local more no compartimento mais próximo à parede dos fundos da casa, do lado esquerdo de quem entra, e seus irmãos mais novos, à medida que vão casando, ocupem os compartimentos contíguos, a partir dos fundos para a frente da casa. Os homens solteiros, já iniciados, devem deixar o compartimento de seus pais e atar suas redes do meio da casa para a frente. Por último, os agregados que aí estejam morando em caráter provisório ou excepcional e os visitantes devem permanecer na parte da frente da casa.

 

 

Planta baixa de uma maloca típica do Alto Rio Negro. Muitas vezes a parte posterior é reta, nãop formando um semi-círculo. Ilustração: S. Hugh-Jones e Carmichael, 1985.
Planta baixa de uma maloca típica do Alto Rio Negro. Muitas vezes a parte posterior é reta, nãop formando um semi-círculo. Ilustração: S. Hugh-Jones e Carmichael, 1985.

Durante as festas e sobretudo nas cerimônias mais formais, que contam com as danças dos homens adultos, o espaço é rearranjado, passando a ser o centro da maloca a área mais importante, onde a dança tem lugar.

O missionário salesiano Alcionilio Brüzzi fez uma descrição detalhada da maloca de São Pedro, no Rio Tiquié, que encontrou em 1947, mas que pode ser generalizada para as malocas que antes existiam em grande número na região:

"Era construída conforme os antigos costumes. Era retangular, medindo 27,60 metros de comprimento por 18 de largura. A cobertura era de duas águas, com declive bem pronunciado, para o rápido escoamento. Media internamente 7,30 metros de altura até a cumeeira, terminando a 90 cm do chão, de sorte que as paredes laterais mediando apenas 1, 52 de altura. O telhado de canará prolongava-se um pouco mais, na parte correspondente às portas, a fim de defendê-las das chuvas. As paredes principais obedeciam ao estilo clássico, isto é, eram de casca de árvore até 2,5 metros de altura, e depois de trançado de açaí. As paredes laterais eram de pehé.

Assembléia na maloca da sede da Foirn (Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro). Foto: Ana Laura Junqueira, 1996.
Assembléia na maloca da sede da Foirn (Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro). Foto: Ana Laura Junqueira, 1996.

Estava construída solidamente sobre cinco pares de esteios [os três centrais e os outros dois que sustentavam as paredes da frente e dos fundos da maloca], que delimitavam a nave central. Eram paus roliços, retilíneos, rústicos (sem descascar), porém bastante regulares e proporcionais, como o eram também as vigas e caibros.

Todo o madeirame era solidamente travado com cipó. Internamente, os esteios, todos eles bem alinhados, dividiam o espaço em cinco naves [no sentido da largura]. As três centrais para uso comum: passagem, reuniões, danças, visitas e trabalho. Aí ficavam, mais para o fundo, os utensílios de uso comum, como sejam os grandes vasos de barro cozido e os cochos de madeira para a fermentação dos caxiris, e o forno para o fabrico da farinha. É aqui que se desenvolvem as danças por ocasião das festas. As duas naves mais externas, que correspondem à parte baixa do telhado, ao longo do beiral, eram destinadas à residência das famílias: cada nave tinha quatro divisões.

Comunidade Taoerera, [https://terrasindigenas.org.br/pt-br/terras-indigenas/4083 Terra Indígena Médio Rio Negro II]. Foto: Beto Ricardo, 1988.
Comunidade Taoerera, [https://terrasindigenas.org.br/pt-br/terras-indigenas/4083 Terra Indígena Médio Rio Negro II]. Foto: Beto Ricardo, 1988.

Na do tuxaua, casualmente, a separação era um pouco melhor; não bastando porém, para tolher a visão do interno. Em algumas malocas nenhuma separação existe absolutamente. Pode-se, pois, dizer que são divisões imaginárias, correspondentes às traves e esteios da maloca" (1962:175-7). Atualmente, a maioria dos índios que ocupam as margens dos rios principais se organizam em "comunidades", nome dado há décadas pelos missionários católicos - e adotado também pelos protestantes - aos povoados que vieram a substituir as malocas comunais. A comunidade se compõe, geralmente, de um conjunto de casas construídas em um amplo pátio aberto, com paredes de casca de árvore, pau-a-pique ou tábuas e cobertura de palha ou folha de zinco, podendo também contar com uma capela (católica ou protestante), uma escolinha e, eventualmente, um posto de saúde. Cada comunidade possui um capitão, sempre um homem, que tem o papel de reunir o grupo, "animando-o" para trabalhos comunitários e também respondendo às demandas gerais ligadas a tais tarefas. Não se trata, porém, de um chefe ou comandante todo-poderoso que dá ordens e aplica punições. Na maioria dos casos, ele apenas orienta, sem impor sua posição. Constitui-se, também, num interlocutor preferencial com os brancos.

Vida religiosa e ritual

Uma festa de oferenda, chamada em Língua Geral de Dabucuri. Ilustração: Maurice Wilson (in S. Hugh-Jones, 1978).
Uma festa de oferenda, chamada em Língua Geral de Dabucuri. Ilustração: Maurice Wilson (in S. Hugh-Jones, 1978).

É característico da região um complexo ritual envolvendo o uso de flautas e trombetas sagradas, associado a uma mitologia cujos temas centrais incluem a iniciação, os ancestrais, a guerra e os ciclos sazonais. Por meio dos poderes do xamanismo, de substâncias alucinógenas e do contato com os instrumentos musicais, os participantes desses cerimoniais vão ao encontro do passado mítico e a estrutura social ganha maior visibilidade.

Assim, a despeito de muitas variações locais, existem algumas estruturas rituais compartilhadas pelos povos Tukano, Aruak e Maku que integram a área cultural do Noroeste Amazônico. Para saber a respeito dos rituais religiosos e práticas de xamanismo entre esses grupos, vá às seções dedicadas às Etnias do Uaupés, Etnias do Içana e Etnias Maku.

Histórico do contato: séculos XVII e XVII

Mapa da região do Alto do Rio Negro elaborado por Manuel da Gama Lobo d' Almada, governador do Rio Negro, onde permaneceu entre 1784 e 1795. Realizou diversas expedições por esse rio e afluentes, em especial o Rio Branco, devido aos conflitos de fronteira
Mapa da região do Alto do Rio Negro elaborado por Manuel da Gama Lobo d' Almada, governador do Rio Negro, onde permaneceu entre 1784 e 1795. Realizou diversas expedições por esse rio e afluentes, em especial o Rio Branco, devido aos conflitos de fronteira

Desde meados do século XVII, em virtude do decréscimo da população indígena no Baixo Amazonas, conseqüência das epidemias de varíola e da escravização, sobreveio uma enorme carência de braços para o trabalho nas fazendas e na coleta das "drogas do sertão". Os colonos e missionários de São Luís e Belém passaram então a incursionar pelo sertão do Rio Negro e Amazonas, capturando escravos índios e massacrando os que resistiam: eram as "tropas de resgate" e as "guerras justas". A Fortaleza de Barra de São José do Rio Negro (onde hoje se encontra a cidade de Manaus), construído em 1669, serviu de base para futuras entradas em busca de escravos.

Na primeira metade do século XVIII, depois de derrotarem os Manao e os Mayapena, que dominavam o Baixo e Médio Rio Negro e que haviam sido anteriormente seus colaboradores, os portugueses conseguiram alcançar a região do Alto Rio Negro e de seus principais afluentes, como o Uaupés, o Içana e o Xié, ainda muito povoados e praticamente não atingidos pelos brancos. Nesse período, os Carmelitas instalaram aldeamentos até o Alto Rio Negro, nas proximidades da atual cidade de São Gabriel da Cachoeira. O comércio de escravos ficou tão intenso nos anos de 1740 que estima-se que até meados do século XVIII cerca de 20 mil índios foram apresados e descidos do Alto Rio Negro. Nas listas dos escravos retirados dessa região, já estão incluídos em grande número índios Tukano, Baniwa, Baré, Maku, Werekena e outros que vivem hoje em dia nesta mesma área, trazidos para trabalhar em Belém e São Luís.

Em conseqüência do contato com os portugueses, uma epidemia de varíola devastou o Alto Rio Negro em 1740, matando grande número de índios, pois é muito provável que ela tenha se alastrado por certas partes da região sem contato direto com os "brancos", por meio de tecidos e roupas de algodão. Entre 1749 e 1763, epidemias recorrentes de varíola e sarampo continuaram assolando a região, sendo que a de sarampo de 1749 foi tão terrível que passou a ser chamada "o sarampo grande".

A revolta indígena mais famosa desse período foi a de 1757, liderada pelos principais de Lamalonga no Médio Rio Negro. Esta rebelião marca a revolta dos índios contra os missionários, pela ênfase dada à destruição das igrejas e paramentos religiosos e o assassinato do padre carmelita.

Na segunda metade do século XVIII, o governo português sob a direção do Marquês de Pombal retirou o "poder temporal" dos missionários. Eles perderam o controle da administração das aldeias, que então passaram a ser dirigidas por colonos, civis ou militares, que também ganharam o título de "diretores dos índios". Os missionários foram, todavia, autorizados a ficar nos povoados para prosseguir o trabalho de catequese e convencimento dos índios das cabeceiras dos rios e dos igarapés a virem se instalar nessas aldeias do Médio e Baixo Rio Negro. Ainda assim, ocorreu um sensível declínio do trabalho missionário. As aldeias mais prósperas foram elevadas à categoria de povoados ou de vilas, recebendo um nome português, muitas vezes o de um santo. A lei pombalina queria colocar um fim à escravidão e promover a assimilação dos índios à sociedade colonial.

O Marquês de Pombal queria dar aos índios os mesmos direitos dos europeus, mas logo entendeu que os colonos dependiam, para sobreviver, do trabalho indígena, tanto para a agricultura como para a extração das drogas de sertão. Instituiu um sistema de trabalho segundo o qual uma parte dos homens de boa saúde trabalharia vários meses por ano na construção de casas nas vilas coloniais, ao passo que os outros cuidariam das plantações. Mas esse sistema de regulação do trabalho não foi respeitado e os índios continuaram sendo explorados pelos colonos. Centenas deles foram levados para as vilas coloniais durante esse período.

Com base nas fortalezas construídas em 1763 (São Gabriel e São José de Marabitanas), exploradores militares portugueses fizeram exaustivas viagens pelos afluentes superiores do Negro, uma região estratégica, por estar situada na faixa de fronteira entre os impérios coloniais de Portugal e Espanha, sobretudo após a assinatura, em 1750, do Tratado de Madri.

Para os povos indígenas, esse período significou o devassamento quase completo de seu território pelos militares portugueses, e também o aumento da depopulação das aldeias em decorrência dos "descimentos", uma forma de escravidão velada que levava os índios ao trabalho nas embarcações e na agricultura. Essa política teve alto custo para os portugueses, pois ocasionou muitas fugas e revoltas de índios aldeados, havendo sempre a necessidade de reposição de braços para a lavoura de anil e mandioca e para o trabalho de coleta de cacau.

Histórico do contato: século XIX

Em meados do século XIX, em São Gabriel, estava localizado um forte português onde formou-se uma vila com duas dezenas de casas de soldados, uma igreja coberta de palha e uma capela, implantados desde o século anterior numa região de ocupação Baré (Wallac
Em meados do século XIX, em São Gabriel, estava localizado um forte português onde formou-se uma vila com duas dezenas de casas de soldados, uma igreja coberta de palha e uma capela, implantados desde o século anterior numa região de ocupação Baré (Wallac

Desde o início do século XIX, a região do Rio Negro foi missionada pelo carmelita frei José dos Santos Inocente (1832/52), pelo capuchinho frei Gregório José Maria de Bene (1852/54) e por franciscanos (1880/83), os quais tiveram forte participação, juntamente com militares, na repressão aos índios e na exploração de seu trabalho, principalmente no extrativismo. Suas ações foram contemporâneas à invasão de comerciantes, ditos regatões, no Rio Negro, muitas vezes marcada pela violência, quando se apresavam até mesmo meninos índios para vendê-los a negociantes de Manaus e Belém, como aponta o naturalista Alfred Russel Wallace (em 1853).

Durante os anos de 1835 a 1840, a maior rebelião popular do Brasil, a Cabanagem, iniciada com a tomada da cidade de Belém, chegou até o Rio Negro. Isso levou a um processo de repressão aos revoltosos, que foi concluído por volta de 1840. Após esse período, o Comando Militar situado em Belém enviou ao Alto Rio Negro uma tropa, com o objetivo de reconstruir as fortalezas de São Gabriel e Marabitanas, então em ruínas, cujo trabalho foi inteiramente executado pelos índios. O Comando Militar também criou na região a "Companhia de Trabalhadores", para a qual foram convocados os "índios ladinos", ou seja, aqueles que já sabiam falar português. Esta retomada militar provocou um recrudescimento das relações entre brancos e índios na região, a partir de 1840-42.

Várias epidemias de varíola e de sarampo devastaram, nesse século, extensas partes do Rio Negro, provocando a fuga em massa dos índios dos povoados e das vilas coloniais. Nesses períodos de repetidas epidemias, as febres intermitentes, por vezes caracterizadas como "malignas" ou "perniciosas", contribuíram muito para a alta mortalidade na região.

Em meados do século XIX, o governo da recém-criada Província do Amazonas tentou convencer os índios a deixarem de morar em regiões recuadas e de difícil acesso para viver nos povoados ou nas vilas situadas nas margens dos rios maiores e procurou manter em Manaus um certo número de índios para os trabalhos de construção, o que levou a um esvaziamento de muitas comunidades indígenas dos rios Uaupés, Içana e Xié, cujas famílias eram levadas à força para o Baixo e Médio Rio Negro. Muitos índios foram envolvidos na extração da salsaparilha e de borracha, que então se iniciava, e submetidos a migração forçada, transportados pelos comerciantes desde o Alto Uaupés, para trabalharem, sendo esta a principal razão da atual presença de significativa população de descendentes seus no Médio e Baixo Rio Negro.

Em algumas ocasiões, os índios se revoltaram contra este tipo de tratamento e efetuaram expedições vingativas contra os brancos, que não vacilavam em utilizar soldados ou mesmo de índios de outras etnias da região para reprimir as rebeliões.

Estas revoltas se expressavam também através de movimentos religiosos. Na verdade, há uma significativa tradição de movimentos religiosos nesta região começando a partir da metade do século XIX. Os líderes desses movimentos elaboraram as mais variadas mensagens e ideologias messiânicas, e organizavam rituais e cerimônias expressando as esperanças milenárias dos povos. Alguns dos líderes da metade do século XIX, como o messias Baniwa Venâncio Kamiko, ou Venâncio "Christu", como veio a ser chamado, um pajé Baniwa muito poderoso instalado no Rio Içana, pregavam a libertação da opressão política e econômica dos brancos.

Os movimentos se espalharam pela região inteira e ameaçaram expulsar os brancos. Os militares locais e da província reagiram a estes movimentos na maioria das vezes com repressão e violência, embora o governo provincial em 1858 mandasse uma comissão oficial para tranqüilizar a situação. A partir de 1880, um pajé Arapaso do Baixo Uaupés, que se chamava Vicente Christu, começou a contar que se comunicava com "Tupã" (Espírito do Trovão que pertence ao panteão Tupi, mas que foi introduzido pelos missionários junto com a língua geral entre os índios do Alto Rio Negro) e com os mortos. Pregava o fim da exploração pelos patrões de borracha e sua expulsão da região. Anunciava a chegada de missionários que os protegeriam dos patrões, dos militares e dos comerciantes. Proclamava ainda a chegada de uma nova ordem social, na qual os índios seriam os patrões e os brancos seus escravos. Houve vários outros movimentos deste tipo na região no início do século XX, alguns reprimidos com violência pelos militares.

Histórico do contato: fim do séc. XIX até séc. XX

Os missionários salesianos chegaram ao Alto Rio Negro em 1914. Foto: Arquivo da Diocese de S. Gabriel da Cachoeira.
Os missionários salesianos chegaram ao Alto Rio Negro em 1914. Foto: Arquivo da Diocese de S. Gabriel da Cachoeira.

As atividades dos missionários recomeçaram em 1883 com a chegada de franciscanos ao Uaupés. Os índios deviam consagrar um dia da semana à construção das casas para as autoridades religiosas e militares, da Igreja e da cadeia. Os franciscanos tentaram acabar com as atividades dos pajés locais e passaram a controlar os regatões, que somente podiam comerciar com os índios com sua autorização.

 

 

 

 

Antiga Missão Salesiana no povoado da Taracuá no Rio Uaupés. Foto: Arquivo da Diocese de S. Gabriel da Cachoeira.
Antiga Missão Salesiana no povoado da Taracuá no Rio Uaupés. Foto: Arquivo da Diocese de S. Gabriel da Cachoeira.

Um desses franciscanos, Frei Illuminato Coppi, é descrito pelas fontes hitóricas como um homem violento, intolerante, não hesitando em ridicularizar os costumes e as crenças indígenas. Em várias ocasiões, ele expôs à vista das mulheres e das crianças as máscaras e os instrumentos de música sagrados, que eram proibidos de serem vistos por elas. Sua última provocação, no dia 28 de outubro de 1883 em Ipanoré, levou à revolta dos índios do local e à expulsão dos missionários franciscanos. <br type="_moz"/>

 

 

Padre José Domitrovich e chefes Tukano do Uaupés, 1934.
Padre José Domitrovich e chefes Tukano do Uaupés, 1934.

Depois da saída dos missionários, os índios voltaram às suas malocas. As atividades missionárias na região somente recomeçaram em 1914, com a criação da Prefeitura Apostólica do Rio Negro em São Gabriel da Cachoeira e a chegada dos salesianos. A congregação de Dom Bosco se mostrou muito bem organizada, com objetivos e estratégias claras e pessoal bem disposto, bem preparados para as "dificuldades desta missão apostólica".

 

 

 

Alunos e missionários no Internato de São Gabriel. Foto: Arquivo da Diocese de S. Gabriel da Cachoeira.
Alunos e missionários no Internato de São Gabriel. Foto: Arquivo da Diocese de S. Gabriel da Cachoeira.

As primeiras décadas da atuação destes missionários foram marcadas por um grande ímpeto e contundência. Sem dúvida, significou uma redução dos abusos dos patrões que até então predominavam. Mas, por outro lado, os salesianos também se serviram do estado de submissão e de temor no qual se encontravam estes povos para implementar seu projeto, supostamente "civilizador". Demonstrando um profundo menosprezo pelas formas de organização e pensamento dos índios, procuraram desde o começo dizimar as manifestações culturais destes povos. Esta postura frente à cultura indígena é facilmente observada nas diversas publicações dos salesianos.

 

 

D. Pedro Massa, prelado em São Gabriel, com alunos do Internato de Taracuá. Foto: Arquivo da Diocese de S. Gabriel da Cachoeira.
D. Pedro Massa, prelado em São Gabriel, com alunos do Internato de Taracuá. Foto: Arquivo da Diocese de S. Gabriel da Cachoeira.

Os salesianos consideravam que só lograriam penetrar na consciência dos adultos e velhos por meio de seus próprios filhos, depois que estes tivessem sido formados numa educação cristã e rigorosa. Desse modo, a vida das crianças na Missão era marcada por um rigor e disciplina extremos: os horários de todas as atividades eram rígidos e deviam ser obedecidos, a separação dos sexos era absoluta, era expressamente proibido o uso dos idiomas indígenas, até mesmo por aqueles recém-chegados que não falavam uma só palavra do português.

Os salesianos também insistiram muito, eacabaram tendo êxito em convencer os índios a abandonar suas malocas e a se estabelecer em povoados compostos de casas separadas para cada família, sob os pretextos de promiscuidade sexual e falta de higiene. Desestimularam também os índios a praticar os rituais de iniciação masculina (rituais de jurupari). Empreenderam campanhas de difamação e de ridicularização das atividades dos pajés locais, proibiram o consumo de bebidas alucinógenas, tiraram das malocas indígenas enfeites e instrumentos de música cerimoniais.

Aula no internato de Taracuá, Rio Uaupés. Foto: Arquivo da Diocese de S. Gabriel da Cachoeira.
Aula no internato de Taracuá, Rio Uaupés. Foto: Arquivo da Diocese de S. Gabriel da Cachoeira.

De qualquer forma, em razão da sua instalação permanente no Alto Rio Negro, e devido ao fato de constituírem, neste período, a única infra-estrutura de assistência aos índios, as missões salesianas ampliaram pouco a pouco suas atividades, passando a assumir, por um período, o controle sanitário, da educação e do comércio na região. Ajudaram a controlar a situação de exploração dos índios, mas com efeitos mínimos no Içana, onde sua presença direta só ocorreu a partir dos anos 1950.

O ano de 1970 foi um marco importante para a história recente da Amazônia brasileira. O governo federal, então controlado pelos militares, anunciou publicamente o Plano de Integração Nacional (PIN), programa de obras de infra-estrutura com o objetivo de integrar geopoliticamente a região ao resto do país, com efeitos também na região do Alto Rio Negro. Entre 1972 e 1975 seus primeiros efeitos apareceram, com a instalação de postos da Funai e a chegada de militares do Batalhão de Engenharia e Construção e trabalhadores de empresas contratadas para a abertura da BR-307 (ligação entre São Gabriel e Cucuí) e de um trecho da rodovia Perimetral Norte (BR-210), hoje abandonada.

D. Miguel Alagna, prelado de São Gabriel, fotografado em seu gabinete, tendo ao fundo o retrato do brigadeiro Eduardo Gomes. Foto: Vincent Carelli, 1987.
D. Miguel Alagna, prelado de São Gabriel, fotografado em seu gabinete, tendo ao fundo o retrato do brigadeiro Eduardo Gomes. Foto: Vincent Carelli, 1987.

Em 1979, com o corte das verbas federais, os salesianos decidiram desativar o sistema de internatos. O primeiro a ser fechado foi o internato masculino da sede da missão em São Gabriel da Cachoeira. Em 1984, um relatório da missão salesiana registrava ainda 501 alunos internos. Entre 1985 e 1987 foram fechados os internatos de Iauareté, Taracuá, Pari-Cachoeira e Assunção do Içana, assim como o feminino de São Gabriel.

Em 1983, foi descoberto ouro na Serra do Traíra por índios Tukano do Tiquié, dando início a uma "febre" que se alastrou por vários pontos da região por mais de uma década, deslocando índios e atraindo, inicialmente, garimpeiros de outras partes do país e moradores de São Gabriel e, em seguida, empresas de mineração, que invadiram a Serra do Traíra e a região do Alto Içana.

 

São Gabriel da Cachoeira. Foto: Beto Ricardo, 1998.
São Gabriel da Cachoeira. Foto: Beto Ricardo, 1998.

Os impactos dessas mudanças se fizeram sentir, por exemplo, no rápido crescimento da população da cidade de São Gabriel da Cachoeira a qual teria duplicado, passando para 4.500 habitantes, segundoestimativas de agosto de 1985. O "inchaço" de São Gabriel se deveu, em parte aos efeitos colaterais da "febre" do ouro, mas também ao fato de que, privadas dos internatos, muitas famílias tiveram que "abrir" casas na cidade para abrigar seus filhos durante o ano letivo.

Evangelismo

Culto dominical na Comunidade Panã-panã, no Alto Içana. Foto: Beto Ricardo, 1998
Culto dominical na Comunidade Panã-panã, no Alto Içana. Foto: Beto Ricardo, 1998

No final da década de 1940, Sophia Müller, uma missionária evangélica norte-americana da Missão Novas Tribos (MNT), iniciou a evangelização dos Kuripako na Colômbia, estendendo esse trabalho entre os Baniwa do Içana em 1949 e 1950. Pelo menos no início, a conversão dos Baniwa ao evangelismo tinha todos os sinais de um movimento milenarista. Com suas mensagens anticatólicas e pregando a redenção e o fim dos sofrimentos, a missionária converteu a maioria dos índios do Içana. Muitos Baniwa consideravam Müller como uma messias, e vinham de todos os lados para ouvir a sua pregação e se converter à nova fé. Muito prejudicados pelo sistema dos patrões e regatões, embora procurassem se manter longe dos brancos, os Baniwa aceitaram o evangelismo como uma forma de resistência à dominação branca.

Nesse período foi construída a Missão Salesiana de Assunção, no Baixo Içana, na tentativa de conter o avanço evangélico. Não chegou, porém, a influenciar as comunidades evangélicas a montante. Assim foi produzida uma divisão entre crentes e católicos que perdura até hoje.

As comunidades indígenas evangélicas do Içana integram um sistema denominado Igrejas Bíblicas Unidas, administrado por anciãos e diáconos indígenas, escolhidos localmente. Por cada trecho do rio, uma grupo de comunidades compartilha mensalmente, em sistema de rodízio, de uma Santa Ceia. Semestralmente, ocorrem as "Conferências", eventos promovidos pelas comunidades de dois trechos contíguos de Santa Ceia e aberta a convidados.

Terras e organizações indígenas

Segue, em forma de cronologia, um resumo dos eventos mais significativos na história da luta pela demarcação das Terras Indígenas do Alto Rio Negro:

 

Foto: Pedro Martinelli, 1997.
Foto: Pedro Martinelli, 1997.

 

•1971: As lideranças indígenas do Alto Tiquié e Uaupés, incentivados pelos missionários católicos, começaram a reivindicar a demarcação de suas terras. As respostas da Funai são lentas;

•1979: A Funai declara de “ocupação indígena” três áreas contíguas: Pari-Cachoeira, Iauareté, Içana-Aiari. Lideranças do Tiquié encaminham proposta para a delimitação do Alto Rio Negro como área única (proposta reiterada em 1981);

•1984-85: A Funai faz proposta de delimitação de mais três áreas: Taraquá, Cubate, Içana-Xié, e propõe a inclusão na AI Pari-Cachoeira da região da Serra do Traíra, reconhecida como de posse permanente dos Maku. Em janeiro de 1985, as lideranças reunidas em Taraquá encaminham uma nova proposta de delimitação da região do Alto Rio Negro como área única. Um Grupo de Trabalho da Funai elabora uma proposta para delimitar a região do ARN como reserva indígena contínua com idêntica superfície;

II Assembléia dos Povos Indígenas do Rio Negro em São Gabriel: fundação da FOIRN. Foto: Beto Ricardo, 1987.
II Assembléia dos Povos Indígenas do Rio Negro em São Gabriel: fundação da FOIRN. Foto: Beto Ricardo, 1987.

•1986-87: Cresce a resistência dos setores militares, especialmente o CSN (Conselho de Segurança Nacional), contra a demarcação das Terras Indígenas extensas e contínuas situadas na faixa de fronteira. O CSN esvazia o poder administrativo da Funai. O ARN vira o principal laboratório dos militares para a implantação da estratégia de demarcar, reduzindo e fragmentando as Terras Indígenas na faixa de fronteira. O CSN negocia com os Tukano do Tiquié, culminando com a realização de uma grande assembléia de lideranças em abril de 1987.

Mais de 300 líderes indígenas de várias etnias reuniram-se em São Gabriel da Cachoeira na 2ª Assembléia dos Povos Indígenas do Alto Rio Negro com a presença de representantes do governo federal, do governo estadual, da igreja, das empresas de mineração e das organizações indigenistas para discutir o Projeto Calha Norte, as atividades das empresas de mineração e a regularização das Terras Indígenas. A assembléia foi unânime em reivindicar a demarcação urgente de uma área única , recusando a proposta do CSN. Nessa ocasião, foi fundada a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), cuja missão principal era lutar pela demarcação da área única. Em resposta, o CSN propôs uma solução intermediária, consistindo de um mosáico composto por Colônias Indígenas e Florestas Nacionais (Flonas);

O presidente Fernando Henrique Cardoso, em visita a S. Gabriel, recebeu da diretoria da FOIRN o pedido para que o governo federal agilizasse a demarcação. Foto: Lula Marques (Folha Imagem), 1996.
O presidente Fernando Henrique Cardoso, em visita a S. Gabriel, recebeu da diretoria da FOIRN o pedido para que o governo federal agilizasse a demarcação. Foto: Lula Marques (Folha Imagem), 1996.

•1989-90: Decretos presidenciais homologam a demarcação administrativa de três Áreas Indígenas em Pari-Cachoeira; e criam duas Flonas Pari-Cachoeira. Em seguida, outros decretos homologam a demarcação administrativa de áreas indígenas nas antigas reservas de Iauareté, Taraquá, Içana-Xié, Içana-Aiari e Cubate; outros decretos criam nove outras Flonas (Florestas Nacionais) na região. As áreas indígenas, ou “ilhas”, chegaram a ser demarcadas fisicamente, porém a maioria das marcas de concreto colocadas pelo Exército foi arrancada pelos índios e jogadas no rio. Os índios foram reclamar na Justiça, valendo-se dos dispositivos da nova Constituição Federal em vigor;

•1990-92: O Ministério Público Federal propõe uma Ação Declaratória perante a Justiça Federal contra a União, Funai e Ibama, com o objetivo de reconhecer a ocupação tradicional dos índios do Alto Rio Negro sobre uma área contínua, e a revogação dos decretos que criaram as 14 Áreas Indígenas e as 11 Flonas. Dois anos depois, foi requerida uma perícia antropológica sobre a área. Também a definição de uma nova sistemática de demarcação de Terras Indígenas permitiu que fosse aprovado um novo parecer técnico que reunificava as Áreas Indígenas descontínuas bem como englobava as áreas das Flonas, estabelecendo mais uma vez os limites da chamada Área Indígena alto rio Negro conforme o desejo dos índios. A Foirn reitera diante das autoridades a sua reivindicação de demarcar o Alto Rio Negro como área única;

Durante todo o ano, através de 21 frentes de trabalho, equipes FOIRN/ISA visitaram todas as comunidades das terras em demarcação para discutir com elas esse processo. Foto: Pedro Martinelli, 1997.
Durante todo o ano, através de 21 frentes de trabalho, equipes FOIRN/ISA visitaram todas as comunidades das terras em demarcação para discutir com elas esse processo. Foto: Pedro Martinelli, 1997.

•1993-95: A proposta de revisão administrativa das Terras Indígenas no Alto Rio Negro continua tramitando no Ministério da Justiça, passando por diversas negociações com os setores militares até finalmente, entre dezembro de 1995 e maio de 1996, o ministro declarou a área de posse permanente dos índios e determinou à Funai a demarcação administrativa de cinco terras indígenas contíguas na região do alto e médio rio Negro;

•1996-1998: A Funai abre mão da administração direta da demarcação e a Foirn oficialmente indica o Instituto Socioambiental (ISA) para assumir a tarefa. O ISA e a Foirn formulam um projeto para a consolidação da demarcação e um plano de proteção e fiscalização da área. As atividades de demarcação são realizadas entre abril de 1997 e abril de 1998. Finalmente, em 15 de abril de 1998, durante a 6ª Assembléia Geral da Foirn, o Ministro da Justiça entrega os decretos de homologação das cinco Terras Indígenas demarcadas, o que foi comemorado pelas lideranças como uma vitória histórica.

Todas as comunidade receberam cópia e puderam conferir o mapa das terras em demarcação. Foto: Beto Ricardo, 1997.
Todas as comunidade receberam cópia e puderam conferir o mapa das terras em demarcação. Foto: Beto Ricardo, 1997.

Concluída a etapa da demarcação, a Foirn e associações filiadas, com apoio de várias parcerias, passaram a se dedicar ao grande desafio de construir um programa de etnodesenvolvimento de longo prazo para a região do Alto e Médio Rio Negro, com atividades de proteção, fiscalização, capacitação técnica, expressão cultural e sustentabilidade das comunidades indígenas (manejo agroflorestal, piscicultura, comercialização de artesanato e outros produtos, implantação de escolas indígenas, capacitação de agentes indígenas de saúde, publicação de trabalhos de autores indígenas e outras). Para saber mais a respeito, vá ao item Programa indígena de desenvolvimento sustentável.         

 

Ecologia e manejo

Manejo dos rios. Produção da Escola Tuyuka. Desenho: Higino Meira, 2000.
Manejo dos rios. Produção da Escola Tuyuka. Desenho: Higino Meira, 2000.

O Rio Negro é o maior rio de águas pretas do mundo. Os especialistas caracterizam estas águas como extremamente ácidas e pobres em nutrientes. As terras que drenam são de solos muito empobrecidos e lixiviados. Esta pobreza em nutrientes dos rios influi na vida dos peixes, que, para se sustentar, obtêm a maior parte de sua alimentação de matéria orgânica oriunda principalmente das margens dos rios (vários tipos de insetos, frutas, flores, folhas e sementes). O contrário acontece nos rios de águas brancas, que são ricos em nutrientes, como é o caso do Amazonas e do Solimões. Estas condições do ambiente fluvial também influenciam na composição das espécies de peixes. Apesar de algumas de grande porte, como o pirarucu, os rios da bacia do Rio Negro se caracterizam por um grande número de espécies menores, cada qual com um pequeno número de indivíduos.

Manejo das roças. Produção da Escola Tuyuka. Desenho: Higino Meira, 2000.
Manejo das roças. Produção da Escola Tuyuka. Desenho: Higino Meira, 2000.

A bacia do Rio Negro apresenta certa variedade de tipos de vegetação. Os principais tipos são: floresta de terra firme, que ocupa terras mais altas e não inundáveis; campina, campinarana ou caatinga amazônica, tipo de floresta baixa, arbustiva, variando entre seis e vinte metros, que cresce em solos com muita areia branca, inundável quando ocorrem as chuvas mais fortes, sendo, na sua forma mais pobre, constituída de arbustos mais baixos (três a sete metros) e esparsos, intercalados com vegetação rasteira; vegetação de igapó, que passa a maior parte do tempo inundada (de 7 a 10 meses por ano), possui um número menor de espécies, se comparada com a mata de terra firme, porém mais diversificada que a caatinga; e chavascal, área de vegetação localizada nas margens dos rios e que permanece inundada durante todo o tempo.

Gradiente de vegetação no Rio Negro. Ilustração: Clark and Uhl, 1987.
Gradiente de vegetação no Rio Negro. Ilustração: Clark and Uhl, 1987.

Essa diversidade de paisagens naturais no Alto Rio Negro tem uma relação direta com a distribuição e disponibilidade dos recursos naturais importantes para a vida das populações da região (caça, pesca, fibras e palhas para construção e utensílios, terras férteis para a agricultura e assim por diante). As áreas de caatinga amazônica, de igapós, além dos chavascais, são totalmente impróprias para as atividades agrícolas. Assim, por exemplo, a mandioca brava (maniva), planta perfeitamente adaptada às características e limitações ecológicas da região, não se sustenta em terreno alagado. Por essa razão, os roçados são sempre abertos em terra firme.

A grande variedade de tipos no cultivo da mandioca entre essas populações é particularmente notável, configurando a região como um polo de alta agro-biodiversidade. Nas roças indígenas do Alto Rio Negro, tons de folhagem e diferentes estágios de crescimento dos pés revelam um sistema complexo, no qual o elemento central de manejo está voltado para a manutenção da diversidade como um valor em si, já que não existe uma relação direta entre o uso de uma certa variedade de mandioca e um determinado produto (farinha, beiju, mingau, caxiri, condimentos etc.), enquadrando-se assim numa lógica oposta à agricultura moderna, que privilegia a homogeneidade e a produtividade do cultivo.

Índia hupdu do Médio Tiquié. Foto: Aloisio Cabalzar, 2002.
Índia hupdu do Médio Tiquié. Foto: Aloisio Cabalzar, 2002.

A conservação de uma tal diversidade é concebida como um bem coletivo inserido num referencial cultural comum que se expressa, por exemplo, através dos mitos de origem da agricultura ou das plantas cultivadas. Ademais, tem um valor patrimonial e sua circulação responde a regras coletivas.

Os igapós, onde os peixes desovam, são áreas de reconhecida produtividade pesqueira, sendo preservados para este fim pelos índios. Áreas de igapós são também ricas em cipós e seringa. Já as áreas de caatinga são fontes de palhas, caranã, sororoca etc., matérias-primas para a cobertura de suas casas. As capoeiras são o habitat privilegiado de pequenos animais apreciados pelos índios (cutias, acutivaras), sendo também ricas em plantas medicinais. Quando estão com vinte ou trinta anos, as capoeiras, muitas vezes, são reutilizadas pelos índios para seus roçados. Exigem menor esforço para serem derrubadas e secam com poucos dias de sol, possibilitando sua queima mais rapidamente. As áreas de capoeira também são valorizadas porque existem espécies cultivadas que continuam a dar frutos por muitos anos, como a pupunha, buriti, caju, cucura e outras.

Saiba mais

Acesse o site Piscicultura Indígena no Alto Rio Negro

As estratégias empregadas pelas populações indígenas, desenvolvidas ao longo dos séculos de ocupação e experiência nesta região, têm lhes possibilitado lidar com a pobreza geral de seu ecossistema, sem degradá-lo e empobrecê-lo, assegurando o equilíbrio ecológico no Alto Rio Negro. Dentre essas práticas de manejo cuidadoso e racional dos recursos naturais, destaca-se algumas:

  • A exploração econômica de faixas ecológicas diferenciadas impulsiona as relações de trocas econômicas e rituais entre as várias populações indígenas;
  • A ênfase na agricultura da mandioca brava através do sistema de coivara, que consiste na derrubada de uma área de floresta primária ou capoeira alta, que então é deixada para secar e depois queimada. As roças plantadas nestas clareiras, produtivas durante dois a três anos, são gradualmente abandonadas, embora ainda visitadas para a coleta de frutos de ciclo mais longo. Cada família possui, no mínimo, três roças em diferentes estágios de seu desenvolvimento, além de continuarem a explorar suas capoeiras;
  • Os roçados em geral são abertos em áreas de terra firme, longe das margens dos rios, de modo a preservar as principais fontes alimentícias de origem pesqueira;
  • A alta especialização das técnicas de pesca (armadilhas fixas como paris, matapis ou cacuris) e o conhecimento profundo das estações através de um elaborado calendário astronômico permitem acompanhar e aproveitar o regime de cheias e vazantes dos rios e os ciclos migratórios, reprodutivos e alimentícios dos peixes;
  • Os mecanismos de circulação e de redistribuição dos recursos naturais entre as fratrias, através do sistema de alianças matrimoniais baseado na exogamia dos grupos falantes de uma mesma língua, bem como os rituais formalizados de troca de comida e outros bens (dabucuris), que possibilitam o acesso dos indivíduos a recursos naturais não disponíveis num dado território, promovem a exploração econômica racional em nível regional.

Cotidiano dos índios no rio

Peneirando a massa da mandioca, que foi ralada no tipiti e prensada. Comunidade Matapi, no Alto Içana. Foto: Beto Ricardo, 1997.
Peneirando a massa da mandioca, que foi ralada no tipiti e prensada. Comunidade Matapi, no Alto Içana. Foto: Beto Ricardo, 1997.

Cabe aos homens desmatar e fazer a queimada da área de floresta ou de capoeiras velhas para a constituição das roças. A partir de então, o trabalho torna-se feminino, desde a escolha das variedades de mandioca ou das outras espécies cultivadas até o preparo dos alimentos. No longo trabalho de produzir os diferentes derivados da mandioca (manicuera, tucupi, tapioca, baiji, mingau, farinha), as mulheres gastam praticamente todo o dia.

Depois de preparar a primeira refeição, as mulheres vão à roça colher, fazer o replantio e limpar o terreno; às vezes vão às capoeiras das roças antigas, à procura de frutas que continuam produzindo depois que as roças são abandonadas. Em casa se desdobram entre ralar a mandioca, carregar água do rio para lavar a massa, buscar lenha para o fogo, preparar comida e cuidar e dar atenção para as crianças menores. Desde muito cedo as meninas ajudam sua mãe, no começo apenas entretendo seus irmãozinhos menores para que os adultos possam trabalhar, e depois ajudando em tudo.

Assando o beiju. Comunidade Matapi, Alto Içana. Foto: Beto Ricardo, 1997.
Assando o beiju. Comunidade Matapi, Alto Içana. Foto: Beto Ricardo, 1997.

Os homens costumam acompanhar suas mulheres na roça, ajudando-as na capina e a carregar a mandioca para casa. Muitas vezes, principalmente nos povoados mais antigos, as roças ficam bem distantes das casas, o que significa grande esforço no transporte da carga. Maior ajuda masculina é esperada quando a família se envolve na produção de um novo estoque de farinha ou de um excedente para venda, quando contribuem puxando maiores quantidades de lenha para torrar a farinha. Isto também acontece quando se faz muito caxiri para as grandes festas.

 

 

 

Assando o beiju. Comunidade Matapi, Alto Içana. Foto: Beto Ricardo, 1997.
Assando o beiju. Comunidade Matapi, Alto Içana. Foto: Beto Ricardo, 1997.

A atividade principal dos homens é contribuir com a outra parte da alimentação, o peixe ou a carne de caça. Em geral, os homens saem de canoa todos os dias ou durante a noite para pescar ou caçar. Este trabalho requer um bom conhecimento do rio, dos melhores locais para a pesca, dos hábitos dos peixes e das técnicas de pescaria. Nas áreas de maior escassez de pescado, é fundamental um bom domínio destes conhecimentos e técnicas. Praticamente todos os homens têm pelo menos uma canoa, sendo bastante valorizada uma maior e melhor para viagens mais longas. Algumas vezes eles saem para caçar a pé, percorrendo grandes distâncias à procura de algo com paciência e atenção. Quando um homem consegue abater um animal maior, como uma anta ou um veado, ele destina parte de sua carne para uma refeição comunitária, para a qual convida todas as pessoas de seu povoado. As refeições comunitárias, no entanto, não se restringem às oportunidades de comida boa e farta. Quase todos os dias elas acontecem pela manhã. Cada mulher leva seu cesto de beiju, uma panela de mingau e outra com peixe ou quinhãpira. Todos comem juntos e conversam, aproveitando para tomar decisões de interesse coletivo.

Assando o beiju. Comunidade Matapi, Alto Içana. Foto: Beto Ricardo, 1997.
Assando o beiju. Comunidade Matapi, Alto Içana. Foto: Beto Ricardo, 1997.

Ainda na divisão sexual das tarefas do dia-a-dia, o trabalho artesanal das mulheres restringia-se, tradicionalmente, à produção de cerâmica e cuias, fiação de tucum para cordas, enquanto aos homens cabia a produção dos objetos cerimoniais e toda a cestaria (com exceção dos aturás de cipó, trançados por mulheres maku). Entre os "índios do rio" existem também outros pontos em comum, como os equipamentos e técnicas empregados diariamente nas atividades de subsistência (na agricultura, coleta, pesca e caça; nos deslocamentos cotidianos e a mais longa distância; nas atividades de processamento culinário e de conservação de alimentos, e assim por diante). Por exemplo, os artefatos usados na cozinha são os mesmos em toda a área: tipiti, cumatá, peneira e balaios de arumã; ralos baniwa, feitos no Içana e distribuídos por todas as partes; abanos trançados com talas de tucum ou de arumã ; além de recipientes para pimenta e jiraus feitos com os mais diversos materiais. Os cestos utilizados para carregar mandioca, frutas e outras raízes são variados, de acordo com o rio: na bacia do Rio Uaupés predominam os aturás maku feitos de cipó, mais resistentes e produzidos em diferentes tamanhos, de acordo com a idade e a força do usuário; também são empregados outros tipos de aturá de cipó titica nos rios Negro e Içana, além de jamaxis e aturás de turi.

Especializações e trocas

Nas trocas intercomunitárias, são exemplos de especializações o banco tukano, o ralador de mandioca baniwa, o aturá maku e a canoa tuyuka.
Nas trocas intercomunitárias, são exemplos de especializações o banco tukano, o ralador de mandioca baniwa, o aturá maku e a canoa tuyuka.

Por razões ecológicas, sociológicas e simbólicas, vigoram na região especializações artesanais (produção especializada de certos artefatos por diferentes etnias) que definem uma rede formalizada de trocas inter-comunitárias.

 

 

 

 

Nas trocas intercomunitárias, são exemplos de especializações o banco tukano, o ralador de mandioca baniwa, o aturá maku e a canoa tuyuka.
Nas trocas intercomunitárias, são exemplos de especializações o banco tukano, o ralador de mandioca baniwa, o aturá maku e a canoa tuyuka.

Os Tukano são conhecidos por seus bancos de madeira, os Desana e os Baniwa por seus balaios, estes últimos também pelos ralos de mandioca, os Kubeo pelas suas máscaras funerárias, os Kotiria (dizem alguns) por seus tipitis, os Maku pelas flautas de pã, o curare e os aturás de cipó. No caso dos artefatos de arumã, também há especialistas. No rio Tiquié, os Tuyuka e Bará se destacam como os melhores construtores de canoas, artigo de primeira necessidade para todas as famílias e que alcançam um bom valor de troca.

 

 

Nas trocas intercomunitárias, são exemplos de especializações o banco tukano, o ralador de mandioca baniwa, o aturá maku e a canoa tuyuka.
Nas trocas intercomunitárias, são exemplos de especializações o banco tukano, o ralador de mandioca baniwa, o aturá maku e a canoa tuyuka.

Hoje muitas comunidades também se dedicam à fabricação de artesanato para a venda ou troca por produtos industrializados. Com as missões salesianas, as mulheres passaram a se dedicar à fabricação, para a venda, de redes, tapetes e bolsas de tucum, que aprenderam nos colégios com as freiras, ou com ex-alunas e professoras índias que dão aulas nas comunidades.

No Içana há atualmente um aumento da produção de balaios e urutus para venda, muitas mulheres baniwa também se dedicam a esta atividade. Há outros locais onde se encontram especialistas na confecçãode cerâmica, objetos de pau-brasil e bancos rituais

Desenvolvimento indígena sustentável

Sede da Foirn em São Gabriel da Cachoeira. Foto: Beto Ricardo, 1997.
Sede da Foirn em São Gabriel da Cachoeira. Foto: Beto Ricardo, 1997.

Concluída a etapa da demarcação e homologação das Terras Indígenas, a Foirn (Federação das Organizações Indígenas do Alto Rio Negro) e associações filiadas, com o apoio de várias parcerias, passaram a se dedicar ao grande desafio de construir um Programa Regional de Desenvolvimento Indígena Sustentável de longo prazo para a região do Alto e Médio Rio Negro, com atividades de proteção e fiscalização das terras, capacitação técnica, expressão cultural, sustentabilidade e bem estar das comunidades indígenas.

Escola Tuyuka. Foto: Aloisio Cabalzar, 2002.
Escola Tuyuka. Foto: Aloisio Cabalzar, 2002.

Nesse sentido, foi feito um Zoneamento Socioambiental Participativo, encomendado pela Foirn para dar suporte ao planejamento de ações integradas nas áreas de cultura, saúde, educação e atividades produtivas. Ainda no que diz respeito às terras, a Foirn tem acompanhado os procedimentos administrativos para a identificação, delimitação, demarcação e homologação das TIs Marabitanas/Cué-Cué e Baixo Rio Negro, bem como a declaração e homologação da TI Balaio.

O Programa também inclui a implantação de projetos demonstrativos participativos nas diferentes sub-bacias das TIs demarcadas, integrando ações de saneamento básico, energia alternativa, segurança alimentar, geração de renda, saúde, escola, cultura, comunicação e transporte. Oficinas de capacitação de técnicos indígenas, de associações e da Foirn vêm sendo realizadas nas comunidades abrangendo temas como operação de radiofonia e motores de popa, registro de invasões, documentação em vídeo, atividades de zoneamento, formulação, apresentação e gestão de projetos, entre outros. O Programa Regional visa ainda o fomento de atividades produtivas tradicionais com vocação de mercado, bem como apoiar iniciativas indígenas de comercialização de bens e serviços.

Produto do projeto de piscicultura. Foto: Aloisio Cabalzar, 2002
Produto do projeto de piscicultura. Foto: Aloisio Cabalzar, 2002

Em relação à saúde, o quadro em que se encontram as populações indígenas na região é desfavorável, com recorrência de doenças infecto-parasitárias, sobretudo afecções respiratórias (entre as quais a tuberculose), malária, diarréias e parasitoses intestinais. Atualmente, o DSEI (Distrito Sanitário Especial Indígena) do Rio Negro está sob coordenação da Foirn, que tem buscado adequar o modelo assistencial oficial à variedade de situações socioculturais e epidemiológicas das comunidades. A perspectiva é que se estabeleça procedimentos éticos e jurídicos que assegurem o equilíbrio entre os serviços prestados e as medicinas tradicionais, além do incentivo à formação de profissionais indígenas e à troca de informações entre pesquisadores, comunidades e profissionais de saúde. Até o momento, foram contratadas mais de 200 pessoas, entre profissionais de nível médio e superior, dos quais 90% são profissionais indígenas.

Com o objetivo de melhorar o monitoramento da saúde nas comunidades, a Foirn também vem desenvolvendo, em parceria com o ISA, um sistema de vigilância nutricional. Por meio do projeto “Saúde, Nutrição e Meio Ambiente no Rio Tiquié”, é feita uma avaliação do estado nutricional dos moradores das comunidades nessa região através de medições antropométricas em todas as crianças e jovens em fase de crescimento (por vezes, também nos adultos), bem como do estudo das atividades e da alimentação das pessoas. O Projeto conta com a participação de agentes indígenas de saúde e inclui a troca de conhecimentos e experiências entre moradores da bacia do Tiquié e estudiosos dessa região (antropólogo, bio-antropólogo, ecóloco e agrônomo). Para divulgar informações sobre a pesquisa e temas relativos a saúde e nutrição, são produzidos boletins em português, tukano e tuyuka. A despeito da pesquisa ser feita no Rio Tiquié, em geral, seus resultados podem ser estendidos a toda TI Alto Rio Negro.

Cestaria com a logomarca Arte Baniwa, iniciativa dos índios do Rio Negro em parceria com o ISA. Foto:: Pedro Martinelli, 2000
Cestaria com a logomarca Arte Baniwa, iniciativa dos índios do Rio Negro em parceria com o ISA. Foto:: Pedro Martinelli, 2000

No que diz respeito à educação escolar, o Médio e Alto Rio Negro caracteriza-se como uma região com alto índice de escolaridade, mas servida por escolas que não apresentam um conceito diferenciado de educação indígena. Para reverter esse quadro, o Projeto de Educação Indígena no Rio Negro, realizado pela Foirn em parceria com o ISA desde 1999, tem buscado elaborar iniciativas de reformulação do processo de educação escolar implantado na região desde o início século XX pela Missão Salesiana. A despeito da Secretaria Municipal de Educação ter desenvolvido uma rede de ensino básico nas próprias comunidades, incluindo a contratação de professores indígenas, as missões continuavam a deter o monopólio sobre o ensino de 5a à 8a séries, disponível apenas nos centros missionários e na sede do município (em escolas do executivo estadual conveniadas com a Diosese Salesiana), para onde parte da população das comunidades locais eram então estimuladas a migrar.

Em contrapartida, o Projeto de Educação visa uma escola adaptada às realidades locais, que formem pessoas/cidadãos cujo perfil seja definido por cada etnia/comunidade, envolvidas e interessadas no presente e no futuro de seus povos e terras, buscando autonomia política, autogestão do processo educativo a curto ou médio prazo, superação da discriminação, fortalecimento da auto-estima das coletividades e auto-sustentabilidade econômica.

Foto: Manuel Arroio, 2000.
Foto: Manuel Arroio, 2000.

Até o momento, o projeto viabilizou escolas indígenas em três pontos geográficos distintos, abrangendo a população da bacia do Içana, os povos do triângulo Tukano no Uaupés e a população do Rio Negro nos arredores de São Gabriel da Cachoeira. No Içana, a Escola Indígena Baniwa Coripaco Pamáali, iniciada em 2000, é a primeira experiência de estender o ensino nas comunidades para o ciclo de 5ª à 8ª série. No Alto Rio Tiquié, a Escola Indígena Ütapinopona Tuyuka reúne cinco comunidades tuyuka, desenvolvendo um trabalho de valorização da língua e cultura dessa etnia. Em Iauareté, está em curso o projeto de Educação e valorização da língua Tariana, com a realização de oficinas pedagógicas para a elaboração de material didático na língua. Esse mesmo projeto de educação e valorização está sendo feito com as línguas Kotiria, Desana e Tukano junto às populações do Uaupés falantes desses respectivos idiomas.

Na área de alternativas econômicas, uma experiência pioneira na Amazônia brasileira tem sido desenvolvida pela Atriart (Associações das Tribos Indígenas do Alto Tiquié), o ISA e a Foirn desde 1999. Trata-se do Projeto de Piscicultura, que desenvolve tecnologias de reprodução em cativeiro de espécies de peixes da região (como o aracu) e a produção continuada de alevinos para povoamento de barragens comunitárias, de acordo com as condições ecológicas e logísticas regionais.

A primeira estação foi implantada no povoado Caruru Cachoeira, no Alto Rio Tiquié, e tem envolvido um conjunto de 15 comunidades entre São Domingos e a Fronteira Brasil/Colômbia, beneficiando cerca de 550 pessoas. Com o sucesso da reprodução artificial do aracu, conduzida pela equipe indígena, e o número crescente de viveiros familiares, além do desenvolvimento de sistemas agroflorestais para alimentação dos peixes, o Projeto foi reconhecido e aprovado pelo PDPI (Projetos Demonstrativos dos Povos Indígenas), que vai financiar suas atividades até 2005. Dando continuidade à iniciativa, em 2002 uma segunda estação foi construída em Iauareté, contando com o apoio e administração da Coidi (Coordenação das Organizações Indígenas do Distrito de Iauareté). Assim como os projetos de educação e de Saúde e Nutrição produzem informativos bilingües, o Projeto de Piscicultura produz boletins nas línguas portuguesa, tukano e tuyuka para divulgar seus resultados e saberes associados à atividade.

André Baniwa, no lançamento oficial do projeto de Cidadania em São Gabriel da Cachoeira. Foto: Carlos Alberto de Souza, 2001.
André Baniwa, no lançamento oficial do projeto de Cidadania em São Gabriel da Cachoeira. Foto: Carlos Alberto de Souza, 2001.

Outra empreitada bem sucedida na área de alternativas econômicas está sendo levada a cabo pelos Baniwa do Rio Içana, em mais uma parceria com o ISA.

Exímios artesãos de cestaria com fibras de arumã, os índios criaram a logomarca “Arte Baniwa” e vêm comercializando sua produção em diferentes mercados, notadamente com a rede de lojas Tok&Stok;, na cidade de São Paulo.

Esse conjunto de projetos abrangendo diversas áreas, protagonizados pela Foirn, associações filiadas e comunidades, tem contado com apoio de assessores e pesquisadores de várias partes do mundo. Com o objetivo de intensificar esse intercâmbio de experiências, competências e formas de conhecimento, bem como fazer um mapeamento das pesquisas que vêm sendo realizadas na região (nas áreas de antropologia, biologia, ecologia, medicina, arqueologia, pedagogia, nutrição etc.), foram organizados dois seminários, em 2000 e 2002, que permitiram fazer um balanço da produção e traçar diretrizes para projetos futuros, de modo a atender aos interesses não apenas dos pesquisadores e instituições, mas sobretudo das comunidades estudadas.

Nesse sentido, os seminários lançaram os fundamentos para o estabelecimento de procedimentos básicos na relação entre índios e pesquisadores. Em primeiro lugar, recomendou-se que seja feito um contrato entre a comunidade (ou povo, ou associação) e a pessoa (jurídica ou não, pública ou privada) responsável pela pesquisa, de forma que os grupos pesquisados, ou em cujo território se desenvolverá a pesquisa, tenham controle sobre seus procedimentos e a destinação do material e produtos derivados. Assim, os pesquisadores devem comprometer-se a repartir os benefícios suscitados pela pesquisa, seja por meio da divulgação de forma acessível de seus resultados, seja pela participação nos recursos financeiros decorrentes da exploração econômica de eventuais produtos, ou qualquer outra forma de contrapartida.

Outra importante conquista da Foirn foi o convênio assinado em 2001 com o Ministério da Justiça para efetivar o projeto que ficou conhecido como “Balcão da Cidadania” e que garante aos índios o direito de retirar documentação básica gratuitamente. Embarcações levaram às aldeias o material necessário para expedir documentos como o RG (Registro Geral) e a carteira de trabalho. As associações indígenas também estão sendo beneficiadas, por meio da regularização de sua documentação. O projeto também promoveu um curso para formar agentes de direito indígena, que reuniu em São Gabriel da Cachoeira 155 representantes de 49 organizações indígenas para esclarecer e discutir questões jurídicas fundamentais envolvendo demarcação e fiscalização de Terra, sua cultura e o desenvolvimento sustentável.

Nota sobre as fontes

Diferente de muitas áreas da Amazônia, o Alto Rio Negro tem um acervo relativamente sólido de fontes escritas desde o século XVIII, começando com os registros de escravos indígenas transcritos no livro organizado por Márcio Meira (1994); a crônica de viagem deixada por Alexandre Rodrigues Ferreira no final do século XVIII (1983 [1787]); o relato de viagem à região por Alfred Russell Wallace na metade do século XIX (1979, [1883]); a coleção de documentos organizada pelo Governador do Estado do Amazonas, Tenreiro Aranha, sobre a metade do século XIX, de grande relevância para a história dos movimentos messiânicos na região (1907); a excelente monografia - ainda clássica e de leitura obrigatória, já traduzida em espanhol - de Theodor Koch-Grünberg (1995 [1909]) baseada nas pesquisas etnológicas durante dois anos no começo deste século pela região; a crônica do viajante francês Henri Coudreau que percorreu a região nas últimas décadas do século XIX, fonte importante para a história das missões franciscanas; e a obra do padre salesiano Brüzzi da Silva (1962) que, além das informações etnológicas, contém anotações valiosas sobre as missões salesianas, suas relações com os povos indígenas e suas concepções a respeito dos índios. Há histórias escritas por dois antropólogos que trabalham com todas essas fontes e apresentam análises da história do contato nos lados brasileiro, venezuelano (Wright, 1981; 1992) e colombiano (Hugh-Jones, 1981) da fronteira.

Estudos sobre a arqueologia da região ainda são incipientes, mas contam com as pesquisas realizadas no Médio Uaupés por Eduardo Neves (1988). A ecologia e estudos sobre o manejo dos recursos naturais pelos povos são uma outra área onde há uma produção crescente principalmente da parte dos pesquisadores do Instituto Socioambiental (ver Foirn/ISA, 1998). Além destes, a monografia de Janet Chernela sobre os Kotiria (1993) focaliza a relação entre a organização social e política desses índios e o uso dos recursos naturais.

O livro de Berta Ribeiro (1995) é fundamental para a etnologia da cultura material. A monografia de Casemiro Beksta é a melhor fonte sobre a importância simbólica e religiosa das malocas indígenas. Não existe um estudo global sobre a organização social dos povos no lado brasileiro; embora haja várias teses e artigos sobre a organização social de povos específicos (os Tuyuka, por exemplo). A monografia sobre os Tukano do lado colombiano por Jean Jackson (1983) é certamente relevante para a etnografia dos povos do lado brasileiro.

Há uma produção significativa sobre a questão da mudança e transformação cultural e histórica, começando com o artigo clássico de E. Galvão (1959), a tese de doutorado de Ana Gita de Oliveira (1995), o estudo do milenarismo e da conversão ao cristianismo por Robin Wright (1998) e do movimento político em torno da demarcação das terras na região (Foirn/ISA, 1998).  

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Esta tese foi publicada no final de 1995 pelo MPEG de Belém dentro da Coleção Eduardo Galvão.

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  • Gain Panan : e a origem da pupunheira. Dir.: Luiz Fernando Perazzo. Filme Cor , 35 mm, 9 min. e 36 seg., 1995. Prod.: Laboratório de Animação/CPM da Escola de Comunicação da UFRJ.

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